sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A EDUCAÇÃO DOS MEUS SONHOS

“Precisamos contribuir para criar a escola que é a aventura que marca, que não tem medo de riscos, por isso recusa o imobilismo. A escola em que se atua, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida”.

Paulo Freire

Sempre fui uma pessoa idealista e intensa quando se trata de meus projetos, seja pessoal ou profissional. E quando resolvi lutar por eles, largando meu curso de Direito, um estágio na área jurídica em uma empresa promissora assinei minha sentença com meus pais. Mas o que importa é minha realização como ser humano.

Quando assumi duas nomeações no município de minha cidade natal, fui direto para um bairro carente, crianças em vulnerabilidade social. Escola precária, professores desmotivados. Confesso que foi um choque pra mim. Porém não me deixei abalar, a escola poderia ter problemas (e qual não tem?), mas em minha sala de aula faria deles aprendizagem, nossas dificuldades se transformariam em degraus. E assim fomos indo, improvisando, aprendendo a aprender. Passei por muitas adversidades, tive muitas incertezas, muitas desmotivações, muitas frustrações, muitas noites de choro de insatisfação comigo mesma, com o sistema educacional, com a falta de ética. Enfim, lastimas e criticas nunca resolveram situações problema.

Foi ai que ao ler A Pedagogia da Indignação de Paulo Freire 1997. Pg 35. Identifiquei-me com a seguinte fala:... Há algo ainda de que me convenci ao longo de minha longa experiência de vida, de que a de educador é importante parte. Quanto mais e mais autenticamente tenhamos vivido a tensão dialética nas relações entre autoridade e liberdade tanto melhor nos teremos capacitado para superar razoavelmente crises de difícil solução para quem tenha se entregue aos exageros licenciosos ou para quem tenha estado submetido aos rigores de autoridade despótica. A disciplina da vontade, dos desejos, o bem estar que resulta da prática necessária, às vezes difícil de ser cumprida, mas que devia ser cumprida, o reconhecimento de que fizemos é o que devíamos ter feito, a recusa à tentação da autocomplacência nos forjam como sujeitos éticos, dificilmente autoritários ou submissos ou licenciosos. Seres mais bem dispostos para a confrontação de situações limites..
Se alguém, ao ler este texto, me perguntar, com irônico sorriso, se acho que para mudar o Brasil, basta que nos entreguemos ao cansaço de constantemente afirmar que mudar é possível e que os seres humanos não são puros espectadores, mas atores também da história, direi que não. Mas direi também que mudar implica saber que fazê-lo é possível.(Paulo Freire)

Ali, percebi que o que importa é se minha parte esta sendo feita, que educação quero como profissional e mãe. Passei a traçar metas na Patrícia educadora, me sentindo o Cheguevara da educação (risos), juntamente com meus colegas (porque sozinha não se vai a lugar algum) rompemos algumas das barreiras que nos aprisionavam na escola e começamos a construir o nosso ideal de educação para todos, apesar dos esbarros no sistema novamente. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, exige reconhecer que a educação é ideológica. (Paulo Freire – Pedagogia do Oprimido)

Só que mesmo lutando, buscando este ideal de educação, sentia que faltava ainda muito embasamento teórico a mim como profissional, queria ampliar meus horizontes. Cidade pequena quaisquer algo a mais temos que buscar em outros municípios. Assim deixei em banho Maria minhas idéias por não poder no momento.

Quando surgiu a oportunidade de virmos para Caxias do Sul ferveceu novamente, pois aqui tranqüilamente poderia fazer pós, mestrado e o tão almejado doutorado. Com as emoções borbotando: medo, insegurança, euforia não percebi que teria que deixar minha turma da 4ª série, meus alunos desde a 2ª série (ora no ensino regular, ora no turno integral) que seria dolorido para ambas as partes, mas isso só nos damos conta quando perdemos. Tive um orgulho imenso em poder conviver naquela comunidade de catadores de lixo, prostitutas e de crianças tão cheias de amor, de uma bagagem de vida (apesar de tão pouca idade) que me ensinaram muito. Ensinaram-me a dar valor ao que tenho, a vida. Nunca vou esquecer um fato que marcou muito minha sala de aula, em uma determinada semana estava trabalhando o lixo, reciclagem... Então tive a idéia de convidar a mãe de um aluno para nos dar uma palestra sobre seu serviço de catadora de lixo. Foi muito emocionante ver aquelas senhoras, humildes, mas muito orgulhosa, principalmente valorizada pelo convite, explicando seu trabalho. O seu filho estava deslumbrado, extasiado com o momento. Tenho a absoluta que aquela foi a melhor aula de minha vida.

Por esta razão, concordo com Maira Aranha, quando afirma que... A verdadeira educação deve dissolver a assimetria entre o educador e o educando, pois, se há inicialmente uma desigualdade, esta deve desaparecer à medida que se torna eficaz a ação do agente da educação. O bom educador é, portanto, aquele que vai morrendo durante o processo...(ARANHA, 1989, p.51) naquele momento não era mais eu que conduzia as crianças ao ato de educar e sim aquela senhora, que para muitos nada teria a contribuir com nosso crescimento educativo.

E agora cá estou eu, caminhando para alcançar o que sonho passou por algumas escolas em Caxias, que acrescentaram muito em minha busca. Atualmente trabalho com assessora pedagógica em algumas escolas de educação infantil, e posso perceber que temos muita caminhada pela frente e alguém tem que dar o primeiro passo.

Nietzsche já dizia: “Se quiser ser um homem forte, torne-se mestre de um único objetivo, insista no seu trabalho”.E é isso que quero, persistir, errar, consertar meu erro, buscar novas possibilidades de olhar a educação.

Tento fazer meu objetivo único: a educação. A educação que contribua para formar indivíduos aptos a exercer plenamente todas as potencialidades de seu espírito. Para isso, “... nós educadores também temos que agir e viver para aprender a compreender”.Nietzsche.

Quero um ensino em que a criança seja capaz de se auto-regular dinamicamente e de sentir, processar e gerar respostas a informações afetiva e cognitiva que recupera e recebe do ambiente, que graças a sua vitalidade e curiosidade se constrói e descobre a si mesma: seu corpo, movimentos, expressões e emoções, seus pensamentos e afetos. Desejo uma criança que seja formada a partir dos seus interesses e potencialidades, segundo seu ritmo pessoal de aprendizagem.

Desenvolver um trabalho, respeitando cada etapa de seu desenvolvimento.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

cont_linguagem: Arteterapia: do isolamento à construção de uma identidade

cohttp://opiniaoenoticia.com.br/vida/saude/arteterapia-do-isolamento-a-construcao-de-uma-identidade/?optin
Processos terapêuticos
Arteterapia: do isolamento à construção de uma identidade
Emanuelle Bezerra

Uma punição por discordar dos métodos adotados nas enfermarias e a doutora Nise da Silveira inaugura no Brasil, em 1946, uma das terapias mais crescentes no país: a arteterapia. Ela se recusava a aplicar eletrochoques em seus pacientes e por isso foi transferida para o departamento de terapia ocupacional, o que seria uma punição, pois essa vertente era menosprezada pelos médicos na época. Mas Nise fez disso uma oportunidade de seus pacientes se expressarem e interagirem com o mundo por meio das artes.

No lugar das tradicionais tarefas de limpeza e manutenção que os pacientes exerciam sob o título de terapia ocupacional, ela criou ateliês de pintura e modelagem e, com isso, revolucionou a Psiquiatria então praticada no país. A intenção da doutora era possibilitar aos doentes um contato com a realidade por meio da criatividade. A produção nestes ateliês foi tão intensa que despertou grande interesse científico e mostrou a utilidade de técnicas artísticas no tratamento psiquiátrico. O legado que a doutora Nise da Silveira deixou para a medicina foi de tamanha importância, que o espaço onde estava instalado o Centro Psquiátrico Pedro II foi transformado no Museu de Imagens do Inconsciente para expor as obras dos pacientes. Inicialmente o museu serviu para, por meio do estudo de imagens e símbolos, acompanhar o quadro clínico dos doentes.

Inspirados no trabalho de Nise da Silveira, inúmeros profissionais passaram a se utilizar destas técnicas no tratamento de transtornos mentais. Mas, ao contrário do que possa parecer, a arterapia não é uma terapia alternativa, como explica a psicóloga e arterapeuta Angela Philippini. “Fora do Brasil este processo já existe há 55 anos, foi criado por Jung e é um campo de conhecimento muito específico”. O trabalho de Nise da Silveira foi contemporâneo aos primeiros pesquisadores dos outros países. Nise foi aluna de Jung.

O psicólogo Sidney Dantas, que também é musicoterapeuta do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, conta que esses dispositivos no tratamento, seriam inimagináveis nas décadas passadas, antes da Reforma Psiquiátrica, que teve início em 1970. “A partir desta data o que acontecia nos ‘porões’ dos sanatórios começou a vir à tona. Era uma falta de humanidade da própria classe médica, tratamentos violentos, que quando foram expostos, obrigaram as autoridades a reformar o sistema”, conta.

O tratamento dos portadores de transtornos mentais era baseado no isolamento. A rotina não permitia que o paciente tivesse uma vida normal. A lei antimanicomial trouxe um desafio para a classe médica: tirar o paciente deste isolamento e inseri-lo na comunidade. Com a arte, vista inicialmente como um complemento, isso mudou. Segundo Dantas, o isolamento não permitia a melhora no quadro clínico. O psicólogo afirma que este processo artístico atende a esta necessidade. “Desta maneira o paciente pode se expressar, interagir com o mundo, se sentir útil e aceito. Há algo que ele sabe fazer bem. Então escolhe as atividades com as quais tem mais afinidade, descobre e mostra seus talentos”.

Já Angela não pôde empregar as técnicas aprendidas no mestrado em Criatividade na instituição em que trabalhava, então decidiu fundar o Instituto Pomar, em 1982. “A vida das pessoas que são tratadas com arte muda substancialmente. São mudanças muito fortes, muito positivas de auto-imagem, de fortalecimento de identidade, na coragem de se comunicar de maneira mais clara e objetiva. Isso a arte pode fazer pelas pessoas, fazer com que se expressem de um jeito mais diversificado”. Ela diz também que há alguns anos os profissionais de saúde se tornaram mais dispostos a implementar a arte nos processos terapêuticos. “Esta metodologia aqui no Brasil ainda é considerada inovadora”, diz.

Além de transtornos mentias a arteterapia ajuda no controle de problemas neurológicos. “Na realidade a arteterapia tem uma ampla elegibilidade, o que significa que ela pode atender a vários tipos de processos de adoecimento, deste os transtornos mais graves a problemas de ordem neurótica”. Isso significa que as pessoas que sofrem com problemas da vida cotidiana, como stress, podem ser beneficiadas por este processo terapêutico. Em arteterapia existem vários campos de especialização, com a psicopedagogia. Esta vertente trata das dificuldades de aprendizagem, das de ordem pscicomotoras etc.

Além do controle, e, em alguns casos, a cura, a arte traz a inclusão do doente. O trabalho de arteterapia parte do pressuposto de que a criatividade é inerente ao ser humano. “Todas as pessoas podem se expressar através das artes, podem criar, todas as pessoas têm uma potencialidade, uma habilidade, um talento. Esse processo vai despertar essa consciência, o que beneficia várias áreas da vida do indivíduo. Na minha opinião, essa é a revolução da arteterapia. O fortalecimento do indivíduo por meio da sua própria criatividade”, encerra.

Henri Wallon - Educar para Crescer

Henri Wallon - Educar para Crescer