quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Contribuições da Psicopedagogia ante o “diagnóstico” de TDA/TDAH



Patrícia Leuck

 

 O diagnóstico de TDA/TDAH atualmente é um dos temas mais abordados nos espaços educacionais e clínicos, com conceito bem específico : criança desatenta, desorganizada e inquieta.

Consta analisar que a infância e a adolescência são fases de inquietude, de buscas por respostas, uma verdadeira desorganização de emoções, pensamentos, seguido pelo sintoma da desatenção. Desatenção do que não está sendo assimilado ou contextualizado ao seu dia a dia, às suas inquietações. São tantas perguntas e cobranças do mundo que os cerca, e as respostas? As respostas prontas, sintetizadas e bem limitadas, tornando-os acomodados, desatentos, hipoativos. Não os autorizamos a pensar.

Autoria de pensamento  segundo FERNANDÉZ “ é o processo e a produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como protagonista de tal produção”.  A aprendizagem dá-se pela interação, assimilação, associação das ideais. Como haver tal aprendizagem com crianças enfileiradas em suas cadeiras, apenas recebendo informações, meros expectadores do mundo que as cerca. SCOZ( 2003) nos diz que      “ ordem e desordem fazem parte de uma totalidade movente, onde equilíbrio contém e é criado pelo desequilíbrio, sendo importante para o processo de aprendizagem: ricos em evoluções imprevistas,traçados de relações não lineares de causa e efeito, fractados em múltiplas e diferentes magnitudes, tornando-se precária a universalização.  

Não consideramos a vida cotidiana da criança e do adolescente do século XXI, Vivemos num mundo globalizado, onde elas captam milhares de conhecimento numa fração de segundos. A geração Z, geração está que traz características de assistir televisão enquanto se estuda para uma prova e fones nos ouvidos ao redigir um trabalho escolar são cenas bem comuns na atualidade entre os jovens . Convivem com o estresse a ansiedade e insegurança da sociedade, de sua família, participam ativamente com a competitividade que seus pais enfrentam lá fora no mercado de trabalho, competição para serem bem vistos e aceitos em suas tribos, financeiramente, emocionalmente. E todo esse bombardeio não é nada inofensivo, pois os torna em uma eterna busca pelo prazer, saciar suas vontades, que muitas vezes nem eles próprios sabem quais são por não estarem  conseguindo acomodar todas estas informações .  Aqui questiono muito o uso abusivo de medicalização infantil, e, ao ler a frase de FERNADÉZ quando diz que: " A sociedade hipercinética e desatenta medica o que produz”  nos confirma o que não estamos querendo ver, ouvir ou até mesmo admitir, admitir que estas crianças estão refletindo o que estão recebendo: hiperativismo, individualismo e desatenção  ao mundo que os cerca, porém exigimos de nossas crianças totalmente ao contrário.

A sociedade esta aniquilando a infância, podando suas etapas essenciais para seu desenvolvimento. Queremos filhos e alunos robotizados, que apenas respondam aos nossos estímulos, evitando a autonomia, criatividade e criticidade. Criança é corpo, movimento e isso gera agitação, inquietação, todo este processo resultará na aprendizagem, aprendizagem que responderá as todos seus questionamentos a cerca de seu mundo. As brincadeiras onde estão? As interações de lazer familiares estão cada vez mais individualistas e tecnológicas,

 Em estudos na população francesa Brougère (1993) verificou que os jogos mais utilizados nas escolas são os pedagógicos e os de atividade motora. O autor ainda constatou que são os professores que escolhem os materiais e o tempo para a utilização destes. A brincadeira de faz de- conta apareceu somente nas classes pré-escolares e a brincadeira livre simplesmente não apareceu. Goldhaber (1994) traz relatos de professores da educação infantil e constata que a brincadeira não é vista como um caminho para a aprendizagem. Na Guatemala Cooney (2004) identificou algumas barreiras que impedem a implementação da brincadeira no currículo escolar.

Dentre os estudos realizados no Brasil, Wajskop (1996) pesquisou as concepções dos professores sobre o brincar e verificou que a brincadeira é vista como diversão e separada da educação.

O brincar é a essência do pensamento lúdico e a característica das atividades executadas na nossa . E qual a relação entre brincar e criar?  Aqui respondo a estes questionamentos pertinentes a sociedade atual que é no brincar, e somente no brincar, que o individuo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral, e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o seu eu.  ( Winnicott, 1975, p. 80)

Atualmente uma discussão psicopedagógica paira onde entre os educadores não questiona se “o aluno aprende ou não” ou o quanto ele aprende, mas está voltada a questões mais amplas como : de que modo poderemos favorecer a aprendizagem?, Que ações pedagógicas adotaremos para facilitar a construção de conhecimentos?

Veja a afirmação de Albert Einstein ( 1994, p.36) Por vezes, vemos na escola simplesmente o instrumento para a transmissão de certa quantidade máxima de conhecimento para a geração em crescimento. Mas isto não é correto. O conhecimento é morto: a escola, no entanto serve os vivos

O TDA/TDAH é visto como uma desordem comportamental da infância, inúmeros testes, exames para diagnosticar esta desordem . Mas que desordem comportamental seria esta ? Ou seria uma inquietação de saberes ? Julga-se infância, a fase do simbolismo, que unimos realidade e fantasia, criatividade e imaginação, traquinagens e peraltices de crianças. Criança precisa ser criança, com sua impulsividade, sua curiosidade sobre o mundo com seus porquês, suas inquietações . Inquietude é produtividade, é criação, é vida.

Acredito ser mais fácil, cômodo delegar esta responsabilidade a uma desordem, distúrbio à responsabilizar-se pela educação, pelos limites e regras em suas casas e na rotina dos filhos. Crianças precisam de rotina, limite, focar no seu cotidiano ou tornar-se-ão adultos insatisfeitos, desajustados, incapazes de organizar sua própria vida. E, a criança a a partir de brincadeiras, jogos , interações sociais e principalmente no faz de conta  irá se adequando a estas estruturações sociais, motoras e cognitivas.

As características de crianças que não possuem limites são descontrole emocional, histerias; distúrbios de condutas, incapacidade de concentração, excitabilidade, dificuldade para concluir tarefas e baixo rendimento. Características estas, muito confundidas com TDAH (hiperatividade).

As crianças atualmente não se contentam com pouca coisa, exigem muito de professores e pais, querem algo inovador, que lhes instiguem o intelecto, estamos competindo num páreo duro com alta tecnologia, e temos que correr, pra não ficar atrás.

            Temos que ter em mente que em uma escola, priorizando a sala de aula temos um grupo de crianças de uma mesma faixa etária, mas com desenvolvimento emocional, social e cognitivo bem distintos, cada um com a sua própria dinâmica familiar, seus próprios valores( em relação a comportamento, limites, disciplina e autoridade). TIBA utiliza uma expressão bem interessante de que  “ O professor pode ser um canhão, mas o aluno é um revolver”. Quantas situações agressivas e desnecessárias poderemos evitar se olharmos com outros olhos para nossos alunos, para nós mesmas, porque há muitos professores e pais  hiperativos e sem limites também. Educamos e ensinamos pelo exemplo. Uma vez uma professora nos disse em sala de aula “ Meninas vocês serão o espelho de seus alunos, seu estado de espírito refletirá, muitas vezes neles”.Portanto, a disciplina será um bem desde que não exista uma moral dupla, que todo mundo aceite e compreenda as que normas nunca poderão ser iguais a todos, que os alunos as aceite, para o bem de uma convivência.

            PELLEGRINI afirma que “não nos tornamos competentes socialmente simplesmente porque professores nos dizem como devemos nos comportar, aprendemos essas habilidades principalmente na prática, observando exemplos e convivendo com colegas”.

A capacidade que o ser humano têm em relação a aprendizagem é um fato evidente. Saber compreender os estágios cognitivos, o funcionamento fisiológico dos alunos torna-se prioritário no fazer psicopedagógico e educacional. Saber escutar, questionar a criança, perceber qual entendimento ela possui de sua realidade, dos valores morais, e da lógica, cria uma habilidade de avaliação rica, capaz de encaminhar o psicopedagogo ou os educadores para uma conclusão lógica sobre o potencial de aprendizagem da criança em questão.

Compreender o processo de pensamento destas crianças e adolescentes é imprescindível, investigar o seu nível operatório, para que sejam ajustados as propostas de ensino às suas condições reais de aprendizagem. Instigá-lo e provocar-lhe o desequilíbrio necessário, lhe possibilitará a reflexão sobre novas formas de pensar sobre sua realidade, possibilitando assim, o avanço de seu nível operatório ou de abstração.

Os problemas de aprendizagem surgem por falta de possibilidade da criança aprender, onde não possui a curiosidade desperta, não possui autoria de pensamento.

Todo pensamento, todo comportamento humano remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica.

“A interpretação do discurso não pode ser feita sem levar em conta o nível da realidade, pois a realidade é a prova: sem levar em conta a leitura inteligente dessa realidade que lhe dá sua coerência: sem levar em conta a dimensão do desejo, que é sua aposta, sem levar em conta sua modalidade simbólica que lhe dará sua paixão”. SARA PAIM (p.233)

             Na quarta edição revisada do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos

Mentais (DSM-IV-TR) – guia psiquiátrico que contém informações sobre os mais diversos transtornos mentais estudados e classificados, publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) –, estima-se que entre 3% e 5% da população escolar estadunidense seja portadora do transtorno (APA, 2002).

            Em estudos de caso ao qual me deparei inúmeros são os diagnósticos de TDA/TDAH, onde pais, professores e psiquiatras relatam os sintomas do transtorno, autorizando-se a medicalização, que obviamente trará efeitos colaterais que prejudicarão a vida cotidiana desta criança ou adolescente.

            A necessidade de repensar sobre as rotulações atuais, sobre a medicalização abusiva para todas situações cabíveis ou não na vida do ser humano torna-se urgente.

Repensar sobre nossas inquietudes, nossas impulsividades e agitações são realmente imprescindíveis  ao ser humano faltando-nos um embasamento epistemológico de como devemos conduzir estas características  para uma produtividade  saudável, criativa e empreendedora, afinal as melhores produções, as melhores situações de aprendizagem já vistas na humanidade foram criadas nos mais variados níveis de hiperatividade .

 

Bibliografia:

 

ANDRADE MS. O sujeito como autor e a produção do conhecimento em psicopedagogia. In: Amaral S, ed. Psicopedagogia: um portal para a inserção social. Petrópolis:Vozes;2003. p.38-48.

 FREIRE P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7ª ed. São Paulo:Paz e Terra;1998.

FERNÁNDEZ A. Psicopedagogia em psicodrama. Vozes.

FERNANDEZ A. Inteligência Aprisionada. Ed. Nueva Vision.

FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001;

 GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática 1. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995;

 GALVÃO, Izabel. Henri Wallon. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 2001; HALL, Stuart. Nascimento e morte do sujeito moderno.

PRANDINI, Regina Célia de A. Autoria de pensamento e alteridade: temas fundantes de uma relação pedagógica amorosa e libertadora. IN.: AMARAL, Silvia (coord.) AMARAL, Silvia (coordenadora). Psicopedagogia: um portal para a inserção social. Editora Vozes, 2003.

 

 

 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Educação financeira para crianças

www.educfinanceira.com.br
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Cena do cotidiano: Os pais levam os filhos ao supermercado e, na medida em que vão passando pelas diferentes gôndolas do estabelecimento, se deparam com o setor de guloseimas (bolachas recheadas, salgadinhos, refrigerantes, sorvetes, chocolates,...). Nesse exato momento as crianças começam a se agitar, a berrar ou a espernear para que sejam comprados determinados produtos dessas linhas. Os pais, cientes da necessidade de equilibrar o orçamento, mesmo assim não resistem a situação desagradável e abrem mão do controle de suas finanças e acabam gastando quando não deveriam...
Quantas pessoas já não passaram por uma situação ou presenciaram momentos como aquele que foi descrito acima? Quem ainda não se deparou com crianças que pela força de seus pulmões conseguem “convencer” seus pais ou acompanhantes a comprar determinados tipos de produtos? Quais pais ou tutores ainda não tiveram seu orçamento comprometido no final do mês para atender a demanda de seus amados filhotes?
Lidar com dinheiro não é fácil nem para os adultos, muito menos para as crianças. Ganhar dinheiro é muito difícil, por outro lado, gastar é muito fácil. Ofertas, promoções, necessidades instadas pela mídia, sonhos de consumo, problemas pessoais que as pessoas tentam superar gastando aquilo que lhes tomou muito tempo e suor, despesas de última hora ou situações emergenciais já consumiram a poupança de muitas famílias. E é importante que percebamos que a administração desses recursos cabe a adultos, imaginem então o que significa para as crianças ter um pouco mais de dinheiro no bolso...
Aprender matemática na escola é o primeiro passo para entrar no mundo das cifras. Pena que a matemática aprendida na escola ainda não tenha se relacionado melhor com os fatos do cotidiano, mais especificamente com as diversas relações econômicas e financeiras que vivemos todos os dias ao longo de nossas vidas. A utilização dessa realidade como fator de aprendizagem poderia melhorar muito o convívio das pessoas com o dinheiro e evitar várias dores de cabeça na administração dos orçamentos pessoais...
O real valor do dinheiro só é aprendido pelas pessoas a partir do momento em que ganham seu primeiro salário. O esforço necessário para produzir esse provento inicial dá ao trabalhador a dimensão das dificuldades que ele terá durante sua existência. Mas, e as crianças, como elas poderiam aprender se não podem ingressar no mercado de trabalho? Há outros caminhos? Que possibilidades poderiam ser sugeridas para pais e professores no que se refere a educação financeira a ser dada para as crianças e adolescentes?
Pensando nisso a educadora Cássia D’Aquino têm desenvolvido estudos e aprimorado seus conhecimentos na área e decidiu socializar parte de sua produção através de um site muito interessante chamado Educação Financeira (www.educfinanceira.com.br). Nesse espaço virtual encontramos artigos, sugestões e encaminhamentos para que possamos aprender um pouco mais sobre o assunto e também (principalmente) para que consigamos ensinar nossas crianças e adolescentes a ter uma relação mais saudável com o dinheiro.
O site
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Dinheiro? O que é? Para que serve? Como gastá-lo? Se muitas vezes essas dúvidas
atormentam os adultos, imaginem então como fica a cabeça das crianças
ao tomar contato com esse recurso...
Não há efeitos mirabolantes nem tampouco um enorme acervo de imagens ou filmes disponíveis no site de Educação Financeira. Essa economia é proposital, afinal de contas, o mais interessante para quem visita esse site são justamente as informações relativas as formas como podemos, devemos e iremos administrar nossos recursos e educar nossas crianças quanto a esse quesito. Por isso mesmo, os pontos mais fortes e importantes do site estão localizados nos textos e artigos, dicas e exercícios sugeridos pela professora Cássia D’Aquino. Esses recursos estão divididos em áreas específicas, entre as quais recomendo:
1- O setor direcionado as Famílias, apresenta textos dirigidos para cada uma das faixas etárias que normalmente coabitam dentro de uma mesma casa e que se relacionam como uma família, ou sejam: Pais, adolescentes e crianças. Entre esses artigos iremos encontrar textos sobre temáticas como: Desperdício, A História do Dinheiro, Bolsa de Valores, Trabalho, Financiamento Universitário, Lista de Compras, Mesada,... Entre os materiais destinados as crianças ainda podemos encontrar três jogos que auxiliam os pequenos a entender melhor o mundo do dinheiro (Caça-palavras, Teste e Jogo da Memória).
Obs. Na seção intitulada Artigos encontramos uma reunião dos melhores textos disponíveis nas páginas destinadas a Família.
2- Em FAQ encontramos uma série de perguntas feitas pelos pais ou por educadores em encontros, apresentações, palestras ou mesmo através da internet direcionadas a professora Cássia D’Aquino. Há questões muito interessantes e pertinentes que irão interessar a um grande número de pais e educadores. Além disso, as respostas podem servir como referência para a atuação de muitas pessoas. Entre as várias questões podemos destacar: Como introduzir a Educação Financeira na escola? Mesadas ou Semanadas? De que forma podemos incentivar as crianças a poupar? Que orientações devemos dar a nossos filhos quando ingressam no mercado de trabalho quanto a seus rendimentos?
3- Na parte do site destinada aos Livros encontramos as duas obras escritas pela professora Cássia D’Aquino e também algumas relações estabelecidas entre a Educação Financeira e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Essas informações podem ser obtidas quando entramos em Recursos Pedagógicos, onde se apresentam idéias relativas a Trabalho e Consumo.

Aos Professores
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Foi-se o tempo em que realizávamos o escambo. O dinheiro é apenas uma ferramenta
criada pelos homens para intermediar suas trocas. Não deve ser encarado como a razão
de todos os males nem tampouco como o objetivo final de vida de nenhuma pessoa.
Há pessoas que verdadeiramente odeiam o dinheiro e atribuem todas as infelicidades do mundo a esse recurso. Muitas outras devotam toda a sua vida a perseguir e obter a maior quantidade de dinheiro que possam conseguir. Entre nós há alguns afortunados que conseguem acumular tanto capital que não tem como gastar durante suas vidas. Um enorme contingente de seres humanos, porém não consegue nem ao menos captar o suficiente para manter sua dignidade...
Afinal de contas, o dinheiro é ou não é o grande fomentador de desigualdades no mundo? Será que sem o dinheiro o mundo não seria muito melhor?
Não podemos atribuir a uma invenção humana o encargo por todos os erros e atrocidades que, de certa forma, a própria humanidade vem se impingindo. Se há excluídos, a responsabilidade por essa invisibilidade social é de toda a comunidade, dos governantes aos cidadãos comuns, não há como fugir dessa verdade. O dinheiro é apenas um mero intermediário nas relações estabelecidas entre os homens em suas sociedades e como tal deveria ser entendido apenas como mais um instrumento, uma ferramenta.
Para que possamos estabelecer melhores relações com o dinheiro temos que necessariamente rever muitas de nossas posturas, preconceitos e práticas no convívio diário com esse recurso. Temos que nos reeducar para aproveitar melhor o dinheiro e usufruir de seus benefícios. Somente depois dessa revisão e que poderemos também pensar numa educação financeira a ser implementada para as novas gerações a partir da família e da escola.
O trabalho apresentado no site Educação Financeira propicia algumas discussões acerca desse tema tão espinhoso para tantas famílias e educadores e, mais do que isso, lança a idéia do aproveitamento dessa temática para o estudo desenvolvido em sala de aula desde a mais tenra idade. Vale a pena conferir e, quem sabe, começar a economizar desde já...
   Veja algumas atividades a serem desenvolvidas em sala de aula:
 
Para 1º e 2º anos:
  • Hora do conto : A cigarra e a formiga ou as galinha dos ovos de ouro. São fábulas que abordam o ato de ser previdente,  de poupa. E a outra enfatiza que quem tudo quer, tudo perde.Nossos objetivos com estas fábulas é de refletir sobre o ato de poupar e planejar gastos, uma vez que os presentes que nossos filhos pedem estão cada vez mais caros. Fazê-los que valorizem o que possuem, estipulem metas e objetivos em suas vidas, como um brinquedo ou aparelho que almejam, como podem poupar para conseguir atingir seus objetivos.
  • trabalhar com panfletos de supermercado, demostrando situações problemas do dia a dia de cada um, comparando e pesquisando preços, podemos trabalhar aqui a questão do maior e menor preço, sitema monetário.
  • trabalhar sobre a origem da simbologia do porquinho como elemento ligado a poupança. Construir com eles um porquinho cofre, de garrafa pet .
  • Confecccionar um tlão de cheques com eles, para que aprendam a escrita dos números.
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terça-feira, 29 de novembro de 2011

O trabalho psicopedagógico com crianças e adolescentes com transtorno global de desenvolvimento













RESUMO

           

Abordar o tema sobre Transtornos Globais do Desenvolvimento e suas relações com a Educação a partir das dimensões epistemológicas e históricas, contextualizar alguns subsídios oferecidos na área  da Educação, considerando o atual debate relativo à educabilidade dos sujeitos com autismo, apresentar a escola e ao educador como sendo fundamentais para o processo de inserção social e constituição do sujeito; buscar a contribuição para o movimento de integração escolar não são tarefas fáceis. No Brasil, são poucos e recentes os estudos sobre crianças que apresentam autismo; tanto no campo da Saúde quanto no da Educação, faltam dados sistematizados sobre quem são e onde estão estas crianças, sobre os serviços oferecidos, o percurso escolar e as possibilidades de escolarização. Os dados demostram que a maioria dessa população está desassistida, em termos de serviços e possibilidades de atendimento; uma parcela significativa dos profissionais desconhece o que sejam estes transtornos; a desinformação e o preconceito acabam contribuindo para uma situação de desamparo e exclusão social, sobretudo daqueles menos favorecidos. Para entender este processo de escolarização, deve-se primeiramente traçar uma linha do tempo sobre a evolução histórica de família,  de criança e de educação para poder analisar o insucesso sempre mais interpretado como um reflexo da falta de habilidade do professor e sempre menos como resultado da capacidade de aprendizagem limitada da criança; e a importância de desenvolver uma relação intensa e estável com o aluno.



Palavras-chave: Transtorno Global de desenvolvimento. Educação. Família


Introdução



Para iniciar o trabalho deve-se ter conhecimento sobre o que é o Transtorno Global de desenvolvimento, a fim de buscar um encontro mínimo entre as diferentes abordagens, de encontrar a possibilidade de uma discussão a partir do Código Internacional das Doenças: CID – 10, proposto pela Organização Mundial de Saúde/OMS. Esta referência coloca em uma mesma categoria as crianças e adolescentes, anteriormente classificadas como psicóticas e autistas, independente das causas aceitas. A esta ampla categoria foi atribuída a designação Transtornos Globais do Desenvolvimento como sendo distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades. Os TGD englobam os diferentes transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett.

Em relação aos dados epidemiológicos sobre esta população, não existem referências nacionais. Assim, para obter tais indicadores é necessário recorrer a estimativas norte-americanas[1][4]. Naquele país, são estimadas 10 a 15 crianças para cada 10.000. Supondo que essa incidência seja semelhante no Brasil, podemos indicar um número aproximado de casos na nossa realidade. Segundo o IBGE[2][5] (1997), a população brasileira, de zero a 17 anos, é estimada em 58 milhões de crianças e adolescentes. Podemos supor, então, que o número de crianças e adolescentes integrantes desse perfil diagnóstico varie entre 58.000 a 87.000.

Através dos dados do Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Distúrbios Mentais /DSM-IV (1994), sabe-se que não há correlação entre nível sócio-econômico e a presença destes transtornos. Não se pode negar, no entanto, a potencialização das dificuldades quando a falta de recursos



financeiros restringe ainda mais o acesso ao atendimento. Cruzando as informações do IBGE acerca da situação de pobreza em que vivem 25 % dos sujeitos de zero a 17 anos – rendimento familiar per capita de até meio salário mínimo – com a faixa de incidência dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, podemos estimar que, hoje, no Brasil, entre 14.500 e 21.700 crianças e adolescentes apresentam esse quadro clínico associado à condição de pobreza.

Os dados disponíveis sobre a rede de serviços oferecidos são também poucos, imprecisos e desatualizados. Foram encontradas referências apenas no relatório do Ministério da Previdência e Assistência Social (1997) quanto à categoria das deficiências mentais[3][6]. Segundo esse documento, apenas 2% da demanda são atendidos e, em sua maioria, os atendimentos são feitos por instituições não governamentais (segmento que tradicionalmente tem se ocupado desta população).

A escolarização e o convívio com portadores de transtorno global de desenvolvimento está cada vez mais presente na realidade escolar de nosso país, porém  ainda geram muitas polêmicas, inseguranças e conflitos emocionais em educadores e instituições de ensino. Paira a dúvida sobre sua cognição e socialização com os demais alunos. Falta infraestrutura física e emocional de ambas as partes escola / família. Há necessidade de um conhecimento epistêmico, psicanalítico e neuropsicológico  sobre as ditas “crianças selvagens”, não há como escolariza-los sem conhece-los, sem saber como estimula-los, quando e como estimular a aprendizagem dessas crianças e adolescentes, a importância de uma rotina e um comprometimento com a vida destes portadores. Conhecer sua  história de vida, criar teias afetivas e cognitivas. Enfim, como o trabalho psicopedagógico com crianças e adolescentes com transtorno global de desenvolvimento auxilia o tratamento e escolarização dos mesmos. Como escolarizar e incluir estas crianças ditas  “ selvagens” nas instituições de ensino, tornando seu processo eficaz ?

Este artigo tem como objetivo buscar esclarecimentos e embasamento

Epistêmico sobre o transtorno global de desenvolvimento, buscar uma reflexão sobre as propostas de intervenção  e estimulação destas crianças; procurar subsídios para  estimula-los cognitivamente e socialmente; incluir a criança de

uma forma eficiente e ética; para tornar a inclusão o apoio da família e do portador.



                                                                                                                                

Como trabalhar com Transtorno Global de Desenvolvimento nas escolas?



            Não há como falar de inclusão sem saber de fato a sua trajetória no país e a trajetória das crianças e famílias com necessidades especiais.

Assim, para entender este processo, deve-se traçar uma linha do tempo sobre a sua evolução histórica:

Na Antiguidade Clássica as crianças que nasciam portadoras de alguma anomalia, eram deixadas em bosques, porque não correspondiam ao esteriótipo estético aceitável pela sociedade da época.

Já na Idade medieval, a Igreja e os juristas da época buscaram traçar um novo olhar ao portador de deficiência, um limite entre o abandono e o cuidado, entre a razão e a desrazão. Tornou-se uma questão de posses, valores sociais e um problema teológico. Durante a Modernidade, ocorreram profundas modificações nas ciências, nas organizações sociais, na vida pública e privada. Neste sentido, são interessantes as elaborações de Ariès (1981) acerca do “nascimento” da infância, da família e da escola. Este autor enfatiza que tais instâncias são construções sociais, altamente solidárias às aspirações político-sociais da burguesia nascente.

Assim a criança sai do anonimato e passa a conviver e possuir funções na sociedade, a família por sua vez recebe a responsabilidade de escolarização e socialização de seus filhos bem como de transmissão de valores e princípios. A escola passa a ter o papel fundamental de lócus da educação, onde busca transmitir os ensinamentos da época.

Poder entender o histórico de evolução do tratamento dado a estas  crianças nos leva também a buscar o primeiro atendimento a portadores de Transtorno Global de desenvolvimento, o famoso caso do Selvagem de Aveyron, tornando a intitulação das “crianças selvagens”.

Segundo Gaudreau (1989), os princípios utilizados no tratamento de intervenção de Itard seguem os seguintes pressupostos׃ a necessidade de uma educação global; de rejeição do pessimismo médico e fundamental convicção da perfectividade dos seres. Remetendo ao presente, percebe-se uma nova maneira de olhar a Escola, que é um local de vivencias e experiências de vida, onde devem ser valorizadas e presentes no espaço de aprendizagem. Aprendizagem esta, que não pode jamais ser sinônimo de fracasso e sim um percurso de múltiplos caminhos. Como afirma Ibid ( 2003, p. 04) “ ensinar é perturbar o estável, o igual, estimulando e alertando para outras facetas dos fenômenos, incentivando o trânsito por novos horizontes”.

Os professores e a escola trilham por múltiplos caminhos em busca de inúmeras possibilidades do seu fazer pedagógico, possibilidades que constroem alicerces na aprendizagem cognitiva e emocional das crianças, sendo especiais ou não, porque aqui afirma-se que em uma sala de aula há sentidos, realidades, emoções individuais, sendo fundamental a construção de teias que alcancem e supram as necessidades de cada aluno, principalmente o aluno com TGD.

Os alunos com necessidades especiais não requerem somente uma integração, socialização com a sociedade. Eles requerem muito mais, requerem Educação. Sendo que esta não se dá somente à criança, porém a todos seus colegas de classe e escola, aos seus professores, pais e membros da comunidade escolar para que entendam , respeitem, e saibam conviver com as diferenças e com as suas limitações.

Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns.

Os Transtornos Globais do Desenvolvimento também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo.

Com relação à comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros - fenômeno conhecido como ecolalia - ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões.

             O ensino aprendizagem implica em uma relação guiada por alguma teoria, o professor não terá como ensinar se não estiver epistemologicamente e emocionalmente preparado. Deste modo interessa refletir sobre como a aprendizagem em alunos com TGD é concebida pelo professor; enfatizar o corpo como possibilidade de intercomunicação ( gestos, deslocamentos, olhares, representações), bem como, compreender a dinâmica relacional pautada pelas especificidades desse alunado e suas demandas para o docente.

            A literatura cientifica mostra que as práticas educacionais desenvolvidas até o presente momento, pouco podem contribuir para a inserção da pessoa com necessidade especial na sociedade, remetendo á necessidade de transcender aspectos técnicos e clínicos , na esfera da formação dos professores, tendo em vista a educação da pessoa e não apenas no treino de suas competências. Há muitas escolas que utilizam o método behavorista para ensinar crianças com TGD, por afirmar que eles possuem movimentos mecanicistas, porém ao ler o relato de Robison no livro “ olhe nos meus olhos”, percebe-se a riqueza de criatividade, imaginação e a necessidade de aprender, e  principalmente a  pureza que esses portadores possuem,  nunca o Autismo foi tão bem explicado e retratado como está nesta belíssima obra. Ai vê-se a necessidade destas crianças de interagir com  o mundo, com a sociedade. Ao buscar embasamento teórico em Vigotsky (1994),  quando ele afirma que o desenvolvimento da criança se dá, primeiramente em nível social e, depois, em nível individual, no interior da própria criança:

O individuo realiza ações externas, que serão interpretadas pela pessoas ao seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação, é que será possível para o individuo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir de mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo.

            Como agente de mediações o professor deve explorar sua sensibilidade, a fim de perceber quais são os significados construídos por seus alunos com referencia aos conceitos que estão sendo formados, quer sejam conceitos mais elementares ou complexos. Vigotsky (2000 pag.247) por meio de suas investigações afirma que:

A experiência pedagógica nos ensina que o ensino direto de conceitos sempre se mostra impossível e pedagogicamente estéril. O professor que envereda senão uma assimilação vazia de palavras, um verbalismo puro e simples que estimula e imita a existência dos respectivos conceitos na criança, mas, na prática, esconde o vazio. A criança não assimila o conceito, mas a palavra capta mais de memória que do pensamento e sente impotente diante de qualquer tentativa de emprego consciente do conhecimento assimilado. No fundo, esse método de ensino de conceitos é a falha principal do rejeitado método puramente escolástico de ensino, que substitui a apreensão do conhecimento vivo pela apreensão de verbais mortos e vazios.

            A educação seja inclusiva ou especial, ainda precisa ser repensada e reorganizada a respeito de alunos com TGD, pois os métodos baseados no Behaviorismo, em que as crianças são condicionadas ao ensino direto de conceitos que na verdade, não são nem assimilados, quando muito memorizados de forma mecânica e sem consciência, produzindo ações auto - mecanizadas, sem sentido e muito menos sem significado algum para eles, que deve-se dizer aqui, como acontece para qualquer criança dita normal também. Crianças necessitam dar significações a suas ações e aprendizagens.

             O processo de ensino e aprendizagem dos alunos com TGD precisa ser orientado de forma a desenvolver sua linguagem e principalmente seu psicomotor, o qual julga-se peça importantíssima para a desenvolvimento cognitivo, motor e social destas crianças. Quando se fala em aprendizagem, entende-se estar implícitos todas as formas de conhecimento, não limitado tão somente aos conhecimentos acadêmicos, mas nos conhecimentos do cotidiano, abrangendo, inclusive, as ações de afeto, de sentimento e de valor.

            No que diz respeito a educação psicomotora , o professor é chamado a procurar técnicas mais eficazes, a fim de obter uma melhora progressiva do comportamento geral da criança.

            A educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica, que utiliza meios da educação física, com o objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento da criança, pois o domínio corporal é o primeiro elemento do domínio do seu comportamento.

            Esta educação é uma ação essencialmente educativa, é a aplicação simples, a fins de reabilitação, dos meios trazidos pelo que deveria ser a educação física da criança: desenvolver o psicobiológico da criança; considerar a criança como um todo, e refazer as etapas mal sucedidas do desenvolvimento psicomotor; readaptar e melhorar seu comportamento geral; favorecer o aprendizado escolar e seus requisitos exigidos na aprendizagem.

Sabemos que as atividades de escrita, leitura e ditado são aprendizados, antes de serem um meio de aperfeiçoamento intelectual, e estes aprendizados estão em estreita relação com as diferentes condutas neuro perceptivo motora. Em todos os casos de dificuldades de aprendizagem ou inadaptação escolar, os problemas motores e psicomotores estão estreitamente ligados a problemas afetivos e psicológicos.

Wallon (1999) insiste sobre a importância primordial do desenvolvimento psicomotor durante a primeira infância, pois quanto antes estas crianças forem estimuladas, maiores serão seus resultados positivos no aprendizado, uma vez que  as correlações motricidade – psiquismo são muito evidentes em crianças e adolescentes com TGD.

Nas crianças, que possuem sérios comprometimentos, e que fracassaram na primeira infância, existe o déficit das funções motoras e psíquicas. O déficit é global e de origem patológica, porém as funções de relação são tão atingidas quanto as funções intelectuais.

Seja qual for seu potencial intelectual, as perturbações e insuficiência de conduta neuro motora sempre perturbam e paralisam as manifestações da inteligência.

Os aprendizados escolares básicos são exercícios psicomotores, ou seja,  a evolução psicomotora da criança condiciona os aprendizados referentes a leitura e escrita, onde encontramos constantemente em crianças normais essas dificuldades ( disgrafia, dislexia), já nas crianças com TGD estas dificuldades podem ser agravadas por não conseguirem por si próprias superar suas deficiências nas condutas neuromotoras ou perceptivo- motora. Para  fixar sua atenção a criança deve ser capaz de controlar-se: dominar seu próprio corpo, inibição voluntária. Assim, para adquirir a expressão gráfica, ela precisara ver, lembrar-se e transcrever em um sentido bem definido – da esquerda para a direita; hábitos motores e psicomotores.

Processo, este que dura todo seu período educativo, sendo impossível separar através de sua educação ou sua reeducação, as funções motoras, neuromotoras, perceptivo motoras das funções puramente intelectuais. A educação da criança com Transtorno Global de desenvolvimento deve ser, antes de mais nada , uma educação motora e psicomotora.

Vigotsky ( 2003) defende a teoria acerca das pessoas com necessidades especiais e seu desenvolvimento em relação a determinação da maneira como a condição( ser deficiente) deve ser compreendida e trabalhada no contexto de educação, conferindo-lhe o direito de seu papel ativo na construção no seu desenvolvimento, a partir de sua capacidade individual de apropriar-se e internalizar formas sociais de comportamento como participante de seu processo de conhecimento como sujeito histórico. Somente assim, tal pessoa passa a ser percebida e compreendida como individuo possuidor de diferentes capacidades e potencialidades em emergência, as quais devem ser encorajadas para que se transformar no alicerce do desenvolvimento das funções superiores.

Como Vigotsky (2000) há outros autores que preconizam a importância da escola para o desenvolvimento de crianças com transtornos globais do desenvolvimento, afirmando, inclusive, que a educação pode se transformar em uma “ferramenta” a favor do desenvolvimento global destas crianças. Esta abordagem redimensiona a importância e a função da escola. Para Kupfer (2000 pag.97):

Uma escola poderá ser fundamental para o desenvolvimento ou a conservação das ilhas de inteligência que as crianças já possuem. Mas poderá, ainda e sobre tudo, oferecer mais do que a chance de aprender. Como alternativa ao Outro desregrado, a escola, entendida como discurso social, oferece à criança uma ordenação, oferece as leis que regem as relações entre os humanos, que regem o simbólico, para delas a criança poder tomar o que puder.

Especificando a questão das condições de aprendizagem, a mesma autora coloca que em função da estrutura subjetiva, as condições de aprendizagem desse alunado, apesar de limitadas, existem. Tais possibilidades se dão de forma pontual, as chamadas “ilhas de inteligência” – qualidades intactas que se não reconhecidas e estimuladas podem desaparecer, levando a uma deficiência mental.

Quanto aos efeitos da inserção em uma instituição socialmente reconhecida como de normalidade e da infância, Jerusalinsky (1999 p.150) afirma:

A figura da escola vem a calhar porque a escola não é socialmente um depósito como o hospital psiquiátrico, a escola é um lugar de trânsito. Além do mais, do ponto de vista da representação social, a escola é uma instituição normal da sociedade, por onde circula, em certa proporção, a normalidade social. Portanto, alguém que frequenta a escola se sente geralmente mais reconhecido socialmente do que aquele que não frequenta. (...) E efetivamente isso acaba tendo um efeito terapêutico.

Preconizar a legitimidade da inserção de crianças com autismo nas escolas – e ainda nem entrou-se na discussão sobre em qual modalidade educacional (se especial ou regular) – é bem mais do que defender (ou atender) um mandato político que reza sobre os direitos do cidadão. Mais que um exercício de cidadania, ir à escola, para crianças com Transtorno Global de desenvolvimento poderá ter um valor constitutivo, onde, a partir da inserção escolar seja possível uma retomada e reordenação da estruturação psíquica da criança e ou adolescente.

Tais “efeitos”, contudo, não são inerentes ao ser aluno e estar na escola. Como destaca Meirieu (1998) eles decorrem de uma opção educativa; da aposta permanente na educabilidade do outro; do reinventar incessante dos modos de agir. Reinventar as possibilidades de escutar o outro, de educar o outro, de se aproximar do outro. Seriam estes os ideais e os desafios de quem encontra-se atento ao “especial” presente na educação de todos os sujeitos.





Conclusão



Crianças com Transtornos Global de Desenvolvimento apresentam diferenças e merecem atenção com relação às áreas de interação social, comunicação e comportamento. Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária.

Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da autorregulação.

Apresentar as atividades do currículo visualmente é outra ação que ajuda no processo de aprendizagem desses alunos. Também cabe ao professor identificar as potências destas crianças. Investir em ações positivas, estimular a autonomia e fazer o possível para conquistar a confiança da criança e adolescente. Os alunos com TGD costumam procurar pessoas que sirvam como 'porto seguro' e encontrar essas pessoas na escola é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e emocional.

Observa-se que o desenvolvimento integral diz respeito a criança em sua totalidade, impossível de ser segmentada em múltiplos aspectos, pois para os TGD, todos são importantíssimos, sem poder se estabelecer uma hierarquia sobre eles. Ressalta-se que este desenvolvimento deve ser integral e também integrado.

            Observação esta muito importante para o atendimento desses alunos, na medida que, erradamente, tem se buscado desenvolver a socialização e a motricidade, em vez de se trabalhar harmoniosamente para o desenvolvimento de todas suas potencialidades, sejam físicas, sociais, afetivas ou intelectuais.

            Pensar no aluno como peça mais importante e significativa existente em sala de aula, diversificar as características, as manifestações, os processos educativos irão se aprimorando bem como a consequência da diversidade de capacidades, interesses, ritmos e estilos de aprendizagem que os alunos manifestam.

            Com este propósito, tomam-se como referencias as seguintes considerações de que todo ser humano é passível de sofrer transformações, para isso precisamos mudar a visão de que o deficiente não pode aprender; saber que como profissionais, tem o poder de intervir e proporcionar condições para que este indivíduo se transforme, deixando de lado sua doença e enfocando seu processo de ensino; tanto o professor quanto o aluno são passiveis de transformações em seu processo de mediação e experiência do aprendizado; Centrar os objetivos para com seus alunos nos quatro pilares da educação: APRENDER A CONHECER; APRENDER A FAZER; APRENDER A VIVER JUNTOS E APRENDER A SER.

Não esquecer também que toda ação educativa necessita de uma observação que implicará em uma avaliação. Sendo que a observação deverá ser considerada as ações e os comportamentos da criança e adolescente. A avaliação será o julgamento sobre esta observação, de como lidam com as situações cotidianas e seu modo de ser, sentir e viver.

Para compreender o que se passa no processo educativo no desenvolvimento ou na reorganização da criança com transtorno Global de desenvolvimento, os profissionais engajados nesta ação devem ser muito objetivos em seus atos e na comunicação. Para isto necessita-se de referenciais acerca deste aluno sobre sua história e meio ambiente familiar, e como esta criança é vista pelos outros ( colegas, professor, escola, vizinhos), como ela vê a si própria. Assim, o conjunto de todos estes elementos constitui um testemunho irrevogável do desenvolvimento da criança.

Para finalizar, buscar na educação psicomotora como sendo um elemento chave da educação geral dos alunos com transtorno global de desenvolvimento. Analise que para a criança poder dominar seu comportamento, deverá ter o domínio de seu corpo; a educação psicomotora possibilita à criança uma eficiência em seus atos na vida relacional e em situações educativas; ensinando a criança “ a dispor dos meios de execução, a dispor de um esquema corporal e de um  esquema espaço – temporal, ela condiciona as diversas aprendizagens; a criança, mesmo sendo especial, é artesã de sua própria reabilitação; se uma educação psicomotora for aplicada rigorosamente durante a segunda infância das crianças com Transtorno Global de desenvolvimento, o número de casos de debilidade e de inadaptação, tanto escolares quanto sociais, seriam menores.

A educação psicomotora é muito mais que uma terapia ou um método de reeducação, deve ser considerada como uma disciplina essencial, como afirma o Dr. Le Boulch ( 1983) “ uma educação completa do ser através do movimento”.

Bibliografia



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Autismo, linguagem e educação - interação social no cotidiano escolar [Livro] / A. Orrú Silvia ester. - Rio de janeiro : Wak, 2009. - Vol. 2.

Educação psicomotora e retardo mental- aplicação aos diferentes tipos de inadaptação [Livro] / A. L.Pico. - São Paulo : Manole, 1988. - Vol. 4.

Influências da psicanalise na educação- uma prática psicopedagógica [Livro] / A. Assis Árbila Luiza Armindo. - Curitiba : IBPEX, 2007. - Vol. 2.

olhe nos meus olhos [Livro] / A. Robison Jhon Elder. - São Paulo : Larousse, 2008.

BANKS-LEITE, Luci; GALVÃO, Izabel (org.) A educação de um selvagem: as experiências de Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000

BRASIL. Uma Nova Concepção de Proteção às Pessoas Portadoras de Deficiência: Assistência Social em tempos de Seguridade Social. Ministério da Previdência e Assistência Social, Secretaria de Assistência Social e CORDE. Brasília,1997.



BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999.









[1][4] DSM-IV(1994).                                                                                                                                                             
[2][5]Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores Sociais: crianças e adolescentes. Disponível em: < hhtp//www.ibge.org.br > Acesso em: novembro de 2011.
[3][6] Segundo a legislação nacional e internacional, considera-se “pessoa portadora de deficiência aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. (Decreto n.º 3.298 de 20/11/99, Artigo 4º-I, da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência). Seguindo a mesma referência, entende-se por deficiência mental: “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho”(idem, art.4º- IV) Caracteriza-se como leve, moderada, severa ou profunda. Esta categoria compreende, também, as patologias neuropsiquiátricas – categoria onde se encontram as psicoses infantis e outros distúrbios afins.