Proposta de intervenção psicopedagógica para B.T
Patrícia Leuck
Afirma-se sobre a intervenção ser uma interferência do profissional dentro do processo de aprendizagem do aluno, não somente de suas dificuldades ou distúrbios, mas também na aprendizagem de um modo geral.
Alicia Fernandez (2001) relata que todo sujeito tem sua modalidade de aprendizagem e os seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber.
A aprendizagem é um fruto da história de cada sujeito e das relações que ele consegue estabelecer com o conhecimento ao longo da vida, como afirma Bossa (2000). Sabemos que quanto maior for estimulo dado às crianças, maior será seu desenvolvimento.
Compreendido o conceito de intervenção e aprendizagem, busquemos subsídios para proporcionar o auto conhecimento de BT, para que possa entender como se dá o processo de construção do seu conhecimento.
Analisar BT como sendo uma criança com dificuldades de aprendizagem, que podem estar aliadas aos transtornos de saúde que ocorreram numa fase de grandes obstáculos funcionais orgânicos, aliados a fatores emocionais, que interferem diretamente em seu desempenho escolar, baseando-nos em conceitos de Wells (2000), que afirma que a prática.
Psicopedagógica deve considerar o sujeito como um ser global. O aspecto orgânico diz respeito à construção biológica do sujeito, a dificuldade de aprender estaria ligada ao corpo. O aspecto cognitivo está relacionado ao funcionamento das estruturas cognitivas, ou seja, na estrutura do pensamento de BT. O aspecto social refere-se à relação do sujeito com a família, com a sociedade, seu contexto social e cultural. E, por ultimo, o contexto pedagógico, como a escola organiza o trabalho de metodologia, avaliação e didática.
Diante de todos estes fatores, buscaremos um procedimento de intervenção que se adequou ao caso de BT, procurando desenvolver com uma nova proposta fundamentada no material disparador, com jogos e atividades psicomotoras, brincadeiras corporais, livros de história para contação e expressão oral, onde a criança desperte, através do lúdico, seu auto conhecimento, corporal, cognitivo e emocional.
Considerações sobre o Material Disparador:
Segundo Jorge Visca, que, idealizou a caixa de trabalho para procurar sanar as dificuldades de aprendizagem, inspirando-se na caixa individual, que a psicanálise da criança utiliza.
Esta caixa seria composta de brinquedos, jogos e materiais que representassem o mundo interno da criança, suas fantasias e medos inconscientes frente ao mundo (BARBOSA, 2000. Pg.35). É preciso considerar alguns aspectos, tais como: estágio de pensamento, interesses ou motivações, déficits de aprendizagem,
sexo, idade, meio sócio-cultural, prognóstico e grau de focalização da tarefa (Visca, 1987, p. 29). Barbosa completa ainda com o nível de apropriação da linguagem escrita, vínculos afetivos estabelecidos com as situações de aprendizagem (2002, p. 36).
Além de materiais, estruturados e não estruturados, a caixa deverá conter materiais básicos que servirão de apoio, tais como: lápis, borracha, régua, apontador e dependendo da necessidade apontada pela avaliação: tesoura cola e revistas para recortar.
Esta caixa é única e exclusiva da criança, pois representa uma importância significativa da sua vida, já que intencionam promover “... a superação ou a minimização das dificuldades de aprendizagem” (BARBOSA, 2000 pg.36).
Além da caixa de trabalho, há profissionais que trabalham com o que Bosse (1995) denominou de material disparador em seu artigo na revista Psicopedagogia: O material disparador - considerações preliminares de uma experiência clínica psicopedagógica.
Nesta citação ela explica porque acredita ser inviável trabalhar com a caixa de trabalho: realidade atual, torna-se praticamente inviável ao psicopedagogo dispor de materiais como: jogos, tesouras, caixas de lápis de cor etc. para uso exclusivo de um único cliente. A menos que o profissional se dedique a atender pessoas de classe econômica alta, o que não me parece ser o objetivo da Psicopedagogia (BOSSE, 1995, p. 81).
Segundo Bosse (BOSSE, 1995, p. 81), o material disparador poderá ser um livro, um jogo, pedaços de tecido, papel de dobradura entre outros.
As substituições também não deverão ser feitas de forma aleatória. Elas deverão responder a questões tais como: "Porque vou substituir este disparador nesta sessão? Porque vou introduzir outro".
Embora simples na aparência tenha um rico significado internamente já que é ali que o sujeito depositará suas construções e elaborações como desenhos, pintura, texto etc. Ela representa "o depositário de conteúdos simbólicos do paciente" (WEISS, 2003, p. 152).
Intervenção de BT:
Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário.
É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da “... escuta psicopedagógica...", para que “... se possam decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção". (BOSSA, 2000, p. 24).
Em uma primeira sessão, disponibilizar em uma mesa, diversos materiais como: lápis de cor, canetinha, bloco de desenho, tempera, pincel, livros infantis com fantoches, massa de modelar, brinquedos, corda de pular, giz de quadro negro, retalhos, lã, a fim de que BT se identifique com a caixa através do material não estruturado e experimente mudanças através dos diferentes materiais estruturados; explicando que “os materiais que estão sobre a mesa são para você usar aqui, como quiser, para poder aprender mais”.
Piaget, em Psicologia de lá Inteligência, coloca que:
O indivíduo não atua senão quando experimenta a necessidade; ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado entre o meio e o organismo, a ação tende a restabelecer este equilíbrio, quer dizer, precisamente, a readaptar o organismo... (PIAGET apud VISCA, 1991, p. 41).
Em seguida, conversar com BT sobre a caixa e o material: “O que você gostaria de colocar dentro desta caixa para trabalharmos em nossas sessões”?
O propósito da intervenção baseia-se na estimulação da aprendizagem nas seguintes áreas, manipular, seriar, classificar, transportar, juntar, copiar. Portanto falamos em desenvolver o pensamento pré-operacional e operacional, segundo Piaget.
Quero que BT se expresse ao máximo, utilize todas as formas de linguagem que puder. Acredito que assim conseguiremos sanar muitas de suas dificuldades, conhecendo seu corpo através da confecção uma boneca de pano com os retalhos, desenhando o contorno do seu corpo, expressando-se através do desenho e da contação de histórias, brincadeiras lúdicas com corda. Atividades estas que a farão resgatar o tempo perdido devido sua dificuldade orgânica, conhecer seu corpo. Enfim liberta-se para sua aprendizagem.
Considerações finais:
Fazer com que BT vivencie seu material disparador será muito positivo ao seu aprendizado. Ele realizará atividades que instigarão suas inquietudes, inseguranças, dificuldades e até medos. Para Barbosa ela é “um continente, no qual a criança poderá depositar seus conteúdos de saber e de não saber” (2002, p. 35).
No primeiro momento ele escolherá seu material de trabalho, mas seja qual for me mostrará algo, desenhando representará seu mundo interior e exterior. Confeccionando bonecas de pano, seu próprio brinquedo, criará um vinculo afetivo, seu resgate emocional: “como devo cuidar de minha boneca”? “Como mamãe me cuida”?
Com jogos e brincadeiras, será o momento de explorar sua parte motora, psicomotora, trabalhar o corpo, conhecê-lo, explorá-lo.
Através do seu auto conhecimento, de conhecer como se dá seu aprendizado conseguiremos sanar muitas de suas dificuldades.
O ser humano se constrói progressivamente e em estados de alternância, ora mais emocionais e ora mais cognitivos, auxiliando-nos a avaliar de forma mais concreta o que está acontecendo com BT. Nesse direcionamento, o desenvolvimento é entendido como descontínuo assistemático e como uma construção progressiva. Dito por Dantas de outra forma: “Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência e vice-versa” (1992, pg. 90).
Acredito que esta prática seja a mais adequada à realidade de BT e, ao mesmo tempo, coerente com os princípios de um modelo mais amplo, que é o da Epistemologia Convergente, que lhe dá sustentação. (BOSSE. P. 1995, p. 83)... através da qual o psicopedagogo irá observar as ações desta criança para, a partir daí, fazer suas intervenções com o objetivo de promover o seu avanço em relação às suas dificuldades.
Bibliografias:
1. DANTAS, Heloysa. A Afetividade e a construção do Sujeito na Psicogenética de Wallon. In: Teorias psicogenéticas em discussão. DE LA TAYLLE, Yves, OLIVEIRA, Marta Kohl. São Paulo: Summus, 1992.
2. BOSSE, Vera R. P. O material disparador - considerações preliminares de uma experiência clínica psicopedagógica. In: Psicopedagogia, Rev. 14 (33), São Paulo, 1995.
3. WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
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