quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os Doutores da Alegria - Uma missão do bem

domingo, 26 de setembro de 2010

Fundamentos para a formação e atuação do psicopedagogo

Patricia Leuck
A Psicopedagogia nasceu em um contexto marcado por transformações sociais significativas, onde ampliou muito a procura por escolas.Eis então, o surgimento da psicopedagogia,onde médicos psicólogos e educadores mostraram interesse e preocupação com as dificuldades de aprendizagem, com o fracasso escolar e com a compreensão do processo de ensino aprendizagem. Buscaram alternativas de intervenções que integravam o conhecimento.Passou-se  a olhar o todo, a enxergar o sujeito que, ao aprender, é afetivo, cognitivo, comunicativo, relacional, corporal, biológico e social.  O seu objeto de estudo é o processo de aprendizagem: ensinar/aprender.
Há diversos autores que conceituam de diversas formas a psicopedagogia, mas sob meu ponto de vista, a que melhor se encaixa , é o conceito de Weiss, que procura “ por meio de sua atuação, melhorar a relação do sujeito com a aprendizagem e também a qualidade no processo de construção das aprendizagens, tanto dos educandos, quanto dos educadores, a inserção do educador neste processo, não como um ensinante apenas, mas como aprendente.
 È de extrema importância o educador conhecer o próprio processo de aprendizagem, seus limites e possibilidades para poder entender como se dá a aprendizagem do aluno”. Para Weiss, tanto o aprendente quanto o ensinante, estão envolvidos neste processo.
Quando falamos em dificuldades de aprendizagem temos que pensar não só nas dificuldades que o aluno enfrenta, mas nas dificuldades que o educador também enfrenta para entender o processo de aprendizagem de seu aluno. È uma via de mão dupla, necessitando de uma visão totalizadora, integradora, capaz de possibilitar uma aprendizagem mais signitiva.
Possuir um boa formação docente, um conhecimento mais  especializado nas teorias  cognitivas de aprendizagem , ser conhecedor de uma nova praxis, são imprensidiveis para alcançar um processo educativo que valoriza o saber, que promove a circulação do conhecimento.
       A psicopedagogia caminha com objetivo de contribuir para o processo de aprendizagem do sujeito. Seu caráter interdisciplinar denota especificidade enquanto área de estudo, buscando conhecimentos em outras áreas e criando seu próprio objeto de estudo, campo de aplicação e instrumentos.
Segundo Maria Eliana da Silva e Mari Angela Calderari Oliveira,
A atividade psicopedagógica vem ganhando um espaço de atuação significativo ao longo de sua história, como uma área que identifica, diagnostica e intervem no movimento de aprendizagem do homem.        Aborda-se o termo movimento de aprendizagem, na psicopedagogia,      porque esta área concebe seu objeto de estudo, que é o aprender, como algo dinâmico no ser humano e nas suas inter-relações.
       Ainda, dentro desta interdisciplinariedade da psicopedagogia, Laura Monte Serrat Barbosa, citada por Silva e Oliveira, afirma que :
        Embora a psicopedagogia possua em seu nome os termos psicologia e pedagogia, seu significado não esta relacionado à junção destas disciplinas, mas está ligado a todas que estudam o processo de aprendizagem. A psicopedagogia, sem pretender ser a solução de todos os problemas, surge como uma área que busca integrar várias disciplinas, com o objetivo de construir um corpo teórico que embase uma atuação eficaz, sem que se divida o sujeito da aprendizagem em vários compartimentos. O caráter interdisciplinar da psicopedagogia coloca-a como um campo que teoriza contemporaneamente sobre a questão de apredizagem, efetivando sua prática na relação de aprendizagem e saberes múltiplos. Não se fundamenta em bagagens conteudistas, mas sim em saberes significativos, configurando uma relação positiva com a aquisição de conhecimento.
       È de fundamental importância que se compreenda a psicopedagogia como área que desenvolve seus estudos, concretizando seu corpo teórico e aprimorando seus instrumentos, para entender  de forma cada vez  mais precisa, o processo de aquisição do conhecimento humano. Nosso objeto de estudo vai muito além do processo de aprendizagem, refere-se a um sujeito que aprende, um sujeito que é capaz de conhecer sobre si mesmo e sobre o ambiente do qual  está inserido.Mas o que seria esta aprendizagem? Como se dá este processo?
       Davis e Oliveira definem a aprendizagem como um processo de apropriação ativa, por parte da criança, dos conhecimentos resultantes da experiência do grupo social a que elas pertencem. Ainda afirmam, que  para que a aprendizagem ocorra, é fundamental haver interação entre o sujeito( criança) e outros sujeitos humanos, segundo eles:
A criança, a partir do nascimento, por meio dessas interações, amplia sua ação no mundo e contrói significados tanto para suas ações quanto para suas experiências que vivência, aprende e desenvolve. A utilização da linguagem promove a ampliação dos significados, o que, por sua vez, permitirá a conceitualização. A integração entre linguagem e pensamento representa a base do funcionamento intelectual. A criança aprende nas relações com o outro, através do compartilhamento de ações que são mediadas pela linguagem e pela instrução.
       O papel que nós, psicopedagogos assumimos, segundo análise de Abaurre, deve ser de mediador trabalhando diretamente com o aluno que tem “problemas” de aprendizagem para identificar os fatores que interferem no seu processo, e para ajudá-los a vencer essas dificuldades, por meio de acompanhamento “ remedial”.
       Sabemos que em nossa práxis, nos deparamos com muitos obstáculos, precisando uma instrumentação e preparação para poder intervir, superando as dificuldades e rompendo dogmas que se formam a partir de conflitos criados em relação à esses obstáculos.
       Um deles,  está na escola, com a dificuldade de entender o motivo do fracasso  escolar de seus alunos, criando situações de ansiedade e angustia para ambos os lados  aluno→ educador→ pais.
A interação professor-aluno só é positiva quando a necessidade de ambos é atendida, quando há uma cumplicidade, quando os interlocutores são parceiros de um jogo; o jogo da linguagem, do diálogo, que é algo fundamental. É casar interação com conversação”. (CHALITA, 2002).
       Lidamos com uma realidade complexa dentro de uma instituição escolar, em que as dificuldades se confundem e se acumulam, criando muralhas entre os envolvidos, parecendo impossivel encontrar uma solução para a questão. Mas vejamos, o ensino e a aprendizagem estão inter-ligados; o educador ensina se os alunos aprendem, e ai está o desafio: perceber o que nossos alunos não sabem, não compreendem e, ao mesmo tempo, articular com o que já aprenderam. Também devemos considerar a experiência docente  e a ética profissional. Como diz Rios,
 “ saber fazer bem o que é necessário e desejável no espaço da profissão; a ação docente, de boa qualidade, é uma ação que faz bem, é bem feita do ponto de vista técnico, estético , ético, a nós e àqueles a quem a dirigimos.
       O enfoque psicopedagógico pode ser preventivo ou terapêutico.
       Na ação preventiva, o psicopedagogo irá focalizar as possibilidades de aprendizagem do sujeito, analisando a familia, a escola e a comunidade, com o intuito de conhecer todos os envolvidos neste processo e as condições oferecidas a este sujeito.Orientá-los sobre as etapas de desenvolvimento infantil, sobre a  importância da estimulação no processo de aprendizagem e suas dificuldades.  
       Enfim, nossa atuação sendo clinica ou institucional, preventiva ou terapêutica deve estar voltada em não só compreender, de forma abrangente, como o sujeito humano aprende a realidade e os conhecimentos que foram produzidos ao longo da evolução histórica, mas também como produz conhecimentos novos, como o processo de aprendizagem se efetiva, que dificuldades podem ser encontradas no percurso deste processo e a forma como se ensina, formal ou informalmente. Porém, para que possamos desempenhar nosso papel e nossa função social, ética e moral, é fundamental que atuemos de forma critica, buscando compreender as determinantes histórico-social do fracasso escolar, as possibilidades e limites de sua atuação.
Existem muitas pesquisas voltadas a aprendizagem, em como construimos nosso conhecimento e desenvolvemos nossa inteligência. Algumas teorias conceituam a aprendizagem de forma diferente porque compreendem o processo de aquisação do conhecimento de forma diferenciada. Cabe, aqui, conhecê-las, para propiciarmos uma reflexão sobre a prática docente.
As teorias cognitivas estudam o processo de construção do conhecimento humano e o desenvolvimento da inteligência. Elas nos levam a conhecer como se processa interiormente a aprendizagem por meio das experiências sensoriais( aquilo que é vivido pelo corpo→olhar, sentir e tocar); as representações; nossos pensamentos (damos sentido a representação); e  consequentemente nossas lembranças. Entre outros, como os  fatores cognitivos não observáveis diretamente que devem ser investigados. Essas teorias não respondem a todas nossas perguntas, mas nos apontam o caminho a seguir, buscando alternativas, aplicações de novas práticas pedagógicas.
Para os teóricos cognitivistas, a maturação biológica, o conhecimento prévio, o desenvolvimento da linguagem, o processo de interação social e a descoberta da afetividade são fatores de grande relevância no processo de desenvolvimento da inteligência e da aprendizagem.
Jean Piaget entende que o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biologico( WADSWORTH,1996). Para Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento “total” do organismo ( 1952, p.7) :
Do ponto de vista biológico, organização é inseparável da adaptação: eles são dois processos complementares de um único mecanismo, sendo que o primeiro é o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação constitui o aspecto interno.
Se a psicopedagogia propõe que o próprio sujeito seja autor de sua aprendizagem, intervir nesse processo, conhecendo as teorias cognitivas, é criar mecanismos que contribuam para o aprender do sujeito, possibilitando, num processo dialético, a transformação da realidade, bem como a transformação de si mesmo.
       Na instituição educacional, o psicopedagogo, intervem com base em ações que se caracterizam por uma atitude operativa. Esta atitude, promove a autonomia individual e grupal e é uma atitude a ser aprendida por todos os profissonais que trabalham com a aprendizagem num espaço coletivo. JorgeVisca(1987), em seu livro Clinica Psicopedagogica,apresenta várias atitudes a serem utilizadas pelo psicopedagogo, que podem ser entendidas como atitudes capazes de levar o aprendiz à operatividade, à mudança de uma determinada situação, à aprendizagem.
       O papel do professor no processo ensino - aprendizagem       é uma espiral de conhecimento, é o professor que motiva seu aluno. Henri Wallon afirma que a criança precisa interagir com o meio para desenvolver seus aspectos afetivos, sociais e intelectuais.
A escola é a instituição que tem por finalidade promover atividades para desenvolver esses aspectos. Sendo a educação um fato social, ela deve refletir a realidade concreta na qual esse ser social vive, atua e, muitas procura modificar. A função da educação é integrar a formação da pessoa e a sua insersão na sociedadee, assim, assegurar sua plena realização. Cabe à educação, dessa forma, formar individuos autonômos, pensantes, ativos, capazes de participar da construção de uma sociedade contextualizada. Os métodos pedagógicos não podem ser dissociados desses enfoques, eles devem ser apoiados no conhecimento do aluno e no seu meio, pois “ todas as crianças, sejam quais forem suas origens familiares, sociais, étnicas, tem direito igual ao desenvolvimento máximo que sua personalidade comporta. Eles não devem ter outra limitação além de suas aptidões”.( Wallon, Psicologia e educação da infância. Lisboa. Estampa.1986)
O professor deve ser capaz de através de seu conhecimento nas teorias cognitivas tirar o melhor proveito no processo ensino aprendizagem, perceber que a motivação, a curiosidade e a vontade de cooperar são importantes para a aquisição das competências e servem de estimulos aos alunos para a realização de investigação, trabalhos em grupo, jogos cooperativos e brincadeiras. Enfim, é entender o processo de alfabetização como uma construção cognitiva drámatica-simbólica, instrumentada pela corporeidade. A alfabetização começa quando os pais e a sociedade dão ou tiram da criança o direito de pensar, de ser autônomo, de ser autor de sua própria opinião.
Há muitas situações de êxito na que se aplicam a aprendizagem. O sistema sanciona uns e exalta outros. Essas crianças com dificuldades de aprendizagem não tomam como valor construtivo o errar, onde aqui o professor deveria dar lugar para que este erro torne-se um caminho construtivo, “ é errando que se aprende”, a partir da análise das respostas equivocadas, pode-se chegar a respostas mais adequadas. Se o erro é punido, não há possibilidade de análise do processo que levou a esse erro. Como professores, não nos detemos a analisar por que nosso aluno pensou o que pensou, como chegou aquele equivoco? Devemos levar muito em conta, o processo de aprendizagem em que sabemos o porque estamos sendo alfabetizados, o que estamos aprendendo e o que farei com este aprendizado em minha vida. São questões de suma importância que nunca foram levadas em consideração. Somos frutos da educação bancária, da aprendizagem mecânica, o ensino enciclopédico.
O professor, como condutor de seus alunos, deve possibilitar um espaço de confiança, de criatividade, lúdico, o qual algumas coisas podem, ao mesmo tempo, ser ou não ser. Não em um espaço que estamos jogando ou aprendendo por aprender, mas onde possamos dar sentido criativo e lúdico ao nosso trabalho.Ensinar deve ser sinônimo de prazer. Tentar que nossas situações de ensinagem sejam tomadas como desafios. Transformar a aprendizagem em, como Alicia Fernandez chama de interjogo entre mostrar e guardar. Guardar e deixar que eles perguntem para que encontrem suas próprias respostas. O que posso fazer é mostrar como fiz para chegar a este conhecimento, transmitir a experiência deste processo.
Para Alicia fernandez (1991, p.98)
....sem curiosidade não há aprendizagem. Curiosidade seria a pergunta, a investigação, a necessidade de que o aprendente se conecte com que precise algo, a partir desta conexão com a falta, com a ignorância, haverá circulação de conhecimento.
Em minha prática pedagógica presencio diariamente situações desnecessárias de indisciplina e rotulação de alunos com dificuldades de aprendizagem e também muito despreparo e desinteresse docente em alguns casos. Falta uma visão mais critica de nosso trabalho docente para perceber essas dificuldades como um pedido de socorro, de suplica por algo novo, inovador, prazeroso. Nossas crianças de hoje, não são crianças acomodadas como as de nossa geração, são crianças do mundo globalizado, da era tecnológica, que necessitam de respostas para suas angustias.
Cabe a nós professores compreender a existência da diversidade de nossa sala de aula, dialogar com nossos colegas, pais e os próprios alunos sobre essa diversidade, estimular o aluno a mostrar de forma consciente o que esta aprendendo, dar sentido ao aprendizado, proporcionar varias formas de aprendizagem, diversificar as atividades e reconsiderar os métodos de avaliação, visando que cada aluno tem seu tempo e sua forma de aprender, respeitar e proporcionar avaliações condizentes com as diferenças de sua sala.
Estimular nossos alunos a autonomia, responsabilidade de seu atos e a interação dos alunos pra que possam gerar novos conhecimentos, novas investigações e explorar novos estimulos, são passos não só, para se alcançar a significação do conhecimento e sanarmos o fracasso escolar, mas também, outros tantos problemas que encontramos na instituição de ensino, dentre eles a indisciplina e o bullyng.
Enfim, construir alunos conhecedores de seu processo de aprendizagem, responsáveis pelos seus atos, permitir uma construção de significados e afetividade entre membros, são ações que todo educador sonha para sua carreira docente. È caminhar a passos largos para a construção da escola de todos e para todos e, a nós psicopedagogos fica a missão de auxiliar esta caminhada com muita ética, orgulho e paixão .


BIBLIOGRAFIA:
LAKOMY,Ana Maria. Teorias Cognitivas da Aprendizagem.  Ed. IBPEX 2ª ed. Curitiba. 2008.
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OLIVEIRA.C.M.Ângela. Psicopedagogia: A instituição educacional em foco.Ed. Ibpex. Curitiba. 2009.
ZENICOLA,M.Ana;BARBOSA,S.M.Laura;CARLBERG,Simone. Psicopedagogia: saberes/olhares/fazeres. Ed. Pulso. São José dos Campos. 2007.
LOPES, A.V.Shiderlene. O processo da avaliação e intervenção em psicopedagogia. Ed. Ibpex. Curitiba. 2009.
GOUVÊA. Fernando. Introdução à psicopedagogia. IESDE. Curitiba. 2006.
FERNANDEZ, Alicia. A mulher escondida na professora.Artimed Ed. 1ª ed. 1994.
VISCA. Jorge. Psicopedagogia clinica. Ed. Pulso. 2ª ed. São José dos Campos. 2010.