quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Estudo de caso “ Jonas”: Contribuição psicopedagógica diante da Epistemologia Genética, Neuropsicologia e Psicanálise para a instituição escolar.

Patricia Leuck –
Introdução
Dentro das instituições de ensino deparamo-nos com muito casos de dificuldades de aprendizagem, que transformam a vida dos alunos, de seus educadores e pais em um verdadeiro quebra-cabeças gigante, onde vamos procurando encaixar as peças. Assim é mais este caso que encontramos: Jonas,um menino de oito anos de idade freqüentando o 2º ano do Ensino Fundamental, que demonstrava dificuldades na leitura e na escrita, e principalmente, grande dificuldade de lidar com a realidade e de concentrar-se em si mesmo.
Dificuldades estas, que podem estar aliadas aos transtornos de saúde que ocorreram numa fase de grande importância para seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Portanto, os obstáculos funcionais orgãnicos, aliados a fatores emocionais, interferem diretamente em seu desempenho escolar.
Assim, neste artigo abordaremos a importância da Epistemologia Genética, da Neuropsicologia e da Psicanálise no auxilio das dificuldades de aprendizagem nas instituições de ensino.
Como fatores genéticos, orgânicos e emocionais podem interferir no desenvolvimento dos individuos e como essas áreas têm grande influência sobre o processo de ensino-aprendizagem; e seu auxilio na compreensão, para explicarmos os fenômenos pedagógicos que encontramos no nosso dia-a-dia.
Então, juntemos a Epistemologia genética que busca conhecer a origem ( genêse), ou seja, faz uma abordagem do sujeito em seu processo de construção do conhecimento, com a Neuropsicologia, que ressalta a importância do estimulo para o corpo como um todo até chegarmos na Psicanálise que comprova que somos constituidos como sujeitos desejantes do saber, aliadas em conjunto com a psicopedagogia, para apresentarmos uma receita de sucesso nas instituições de ensino, buscando sempre a coerência, a paciência e tolerância na medida certa, para no final alcançarmos o sucesso escolar.
Contribuição psicopedagógica
Percebemos o mundo através do nosso cérebro, que entra em contato com o ambiente por meio dos órgãos dos sentidos, que respondem aos diversos estimulos. Assim, destaquemos a grande importância da neuropsicologia dentro das escolas : se não estimularmos o corpo como um todo, poderemos fazer uma interpretação incorreta, interferindo na aprendizagem.
Sara Paim ( 1989) afirma que:
A origem de toda aprendizagem está nos esquemas de ação desdobrados mediante o corpo. Para a leitura e integração da experiência é fundamental a integridade anatômica e de funcionalismo dos òrgãos diretamente comprometidos com a manipulação do entorno, bem como os dispositivos que garantem sua coordenação no sistema nervoso central. ( p.29)
Ela aponta ainda que tanto nas escolas como em clinicas, vemos as dificuldades de nossos alunos apenas como manisfestações dos problemas afetivos, cognitivos ou emocionais, deixando de lado os aspectos orgânicos;o corpo e o organismo, pois quando há uma disfunção neurológica ou endocrinológico refletirá certamente na aprendizagem do individuo.Daí a importância do sistema nervoso central que Pain tanto menciona em suas obras: ele é o grande coordenador de todos os dispositivos corporais, bem como de seu funcionamento nas relações com o meio ambiente.
Diversas alternativas nos possibilitam para direcionar nosso olhar psicopedagógico, trabalhando multidisciplinarmente, envolvendo estudos sobre o sistema nervoso central e suas diferentes manifestações: linguagem e raciocínio lógico. Buscamos nas neurociências a explicação e intervenção dos mecanismos neuronais que sustetam atos cognitivos, perceptivos, motores, sociais e emocionais.
Kandel et al. ( 2000) ao conceituar a neuropsicologia esclarece que, além de fornecer informações sobre o comportamento, tendo como escape atividade cerebral produzida por milhões de células neurais, também trata das influências do ambiente incluindo-se nelas, as relações interpessoais.
Vários psicanalistas buscam elos entre as relações fisiológicas com o psiquismo, dentre todos Monah Winograd escreveu um artigo sobre freud publicado pela Revista Percurso, nº 28, 1/2002 com o titulo “ Freud, o corpo e o psiquismo”, o qual ela cita os pensamentos do pai do psiquismo:
A conexão entre processos fisiológicos e processos psicológicos não é de causalidade mecãnica: são processos paralelos, concomitantes e dependentes reciprocamente uns dos outros. Podemos dizer que cada um é causa do outro e de si mesmo, cada ocorrência numa das séries produz efeitos nesta mesma série e na outra. Deste ponto de vista, é problemático qualquer discurso que pretenda reduzir uma série à outra, seja biologizando o sujeito, seja o psicologizando-o. A psicanálise está assentada neste paralelismo psicofisico de Freud que, provavelmente, é o seu pressuposto mais importante.
Para compreendermos o funcionamento intelectual da criança, a neuropsicologia pode recorrer a diversos profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos,etc, promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente.
Ao referir-mo-nos em dificuldades de aprendizagem, Tiosso (1989,1993) assinala que reprovações escolares têm multiplas etiologias. No processo ensino-aprendizagem, consideramos que uma avaliação global das funções psicológicas deve levar em conta todo mecanismo cerebral, nos seus niveis sucessivos de evolução. Assim, a avaliação neuropsicológica é a única forma possivel de se avaliar uma determinada função.
Podemos conceituar o organismo fisiológico como sendo uma máquina cibernética, na qual vigora a norma do equilibrio. Adaptação como equilibrio. Trata-se do que Piaget ( 1936/1956) denomina de adaptação-estado: equilibrio é adaptação estado. Necessitando transitar da vida para o comportamento. Em suma, o sujeito age. E agir significa assimilar o meio e se acomodar a ele.
O ser humano nasce com a possibilidade de interagir com o meio, construir seus esquemas de ação, e, assim, interagir em sistemas cada vez mais abrangentes.
Piaget conceitua a inteligência sendo uma adaptação, porque o sujeito deve sentir-se bem em seu meio. Esta adaptação é composta por três mecanismos: assimilação, que é o apreender novas experiências, que podem ser generalizadas e transpostas para outra ação. A acomodação, o sujeito é pressionado a mudar suas ações, levando-o á equilibração que é um processo ativo, onde o individuo reage a um problema, ou seja o sujeito abre-se ao mundo e encontra-se com ele.
Paul J. Eslinger, em seus estudos neuropsicológicos demonstra sendo muitas diferenças entre as funções executivas da inteligência geral e da memória, o que se traduz como um cuidado conceitual, tanto no diagnótico quanto na intervenção psicopedagógica :
As áreas do cérebro que possibilitam funções executivas são as últimas a amadurecer sendo que, progressivamente vão permitindo: dominar os conhecimentos para fatos, números, palavras e imagens. Tais funções são indispensáveis para nossas atividades e para as adaptações ao contexto que nos rodeia porque são responsáveis, em cada um de nós, pela consciência em relação ao nosso conhecimento e ao nosso desconhecimento.
Contudo, o que se enfatiza é o ajuste ao mundo, porque é somente assim que as estruturas assimilativas do sujeito são alargadas, o que amplia sua inteligência do mundo bem como lhe propicia os elementos para a critica de seus próprios limites: o sujeito tem uma finalidade, que é a de romper seus próprios limites e conquistar a compreensão do mundo. O sujeito crítico-hermenêutico: o sujeito que compreende o mundo e é critico de si.
O sujeito age e se apropria do objeto de conhecimento, atribuindo-lhe significado próprio, de acordo com as suas possibilidades de entendimento até então desenvolvidos.
Em sala de aula., Teberosky( 1989) descreve situações de interação social de crianças em fase de alfabetização e, defende que estas elaboram suas idéias sobre a escrita pelo mecanismo da assimilação de informações do ambiente, sendo indispensável o auxilio do professor, que amplifica o acesso dos alunos a propriedades do sistema da escrita, algo de natureza inerentemente social.
Para a psicanalise, o afeto é deteminante para que aconteça a aprendizagem, pois é o gerador do desejo de saber, á necessidade de conhecermos melhor o aluno para nos relacionarmos melhor, a necessidade de conhecermos as fases do desenvolvimento afetivo do aluno para que nos relacionemos de acordo com as caracteristicas e os desejos presentes em cada uma dessas fases.
Aspectos estes, relacionados a objetos de estudo da psicanálise: constituição do sujeito, determinação das pulsões, dos desejos e do outro no processo de desenvolvimento, mecanismos de defesa, fases de desenvolvimento psicossexual. Quando os educadores se familiarizarem com as descobertas da psicanálise, será mais fácil se reconciliarem com certas fases do desenvolvimento infantil.
Existem a fase oral( do nascimento aos dois anos), a fase anal ( dos dois anos aos três anos), a fase fálica ( dos três anos aos sete anos), a fase de latência ( dos sete aos doze) e a fase genital (dos doze anos em diante). Para os educadores, torna-se necessário o conhecimento sobre estas fases, pois elas são determinantes para a personalidade do adulto. Nelas estão situadas as causas das neuroses infantis ou adultas, no caso de terem vivenciado traumas e recalcamentos em consequência de ações educativas excessivamente rígida e punitiva.
Para Freud a vida adulta é decorrente do que aconteceu na infância. A psicanálise contribui para a educação deixando o conhecimento de que as questões emocionais/afetivas determinam ,comandam e interagem com o que sentimos, pensamos, aprendemos e agimos. Assim, se a criança, no caso em questão, o menino Jonas, estiver conturbado emocionalmente, seu potencial para aprender, agir e pensar não se explicita, ficando enclausurado em seu mundo.
Na escola, se conhecida essas fases e valorizadas todas estes esquemas corporal – orgânico, ajudará o psicopedagogo e os professores a compreenderem que determinados comportamentos dos alunos são intrínsecos.
Reclamar, punir, criticar ou insistir que aprendam com mais dedicação ou com práticas de ensino mais exigentes, não irá modificar seus comportamentos, mas poderá acarretar sentimentos contraditórios, inclusive de baixa auto- estima. A criança precisa sentir o desejo, a pulsão pelo aprender, para conhecer tudo o que a cerca, basta apenas oferecer condições para que isso ocorra. Observar as crianças quanto as suas necessidades e interesses e com elas dialogar sobre estratégias mais oportunas para a transmissão do conteúdo.
É preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossivel aprender a pensar em um regime autoritário. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e demonstrar de forma autônoma.
Considerações finais
A capacidade que o ser humano têm em relação a aprendizagem é um fato evidente. Saber compreender os estágios cognitivos, o funcionamento fisiológico dos alunos torna-se prioritário no fazer psicopedagógico e educacional.
Saber escutar, questionar a criança, perceber qual entendimento ela possui de sua realidade, dos valores morais, e da lógica, cria uma habilidade de avaliação rica, capaz de encaminhar o psicopedagogo ou os educadores para uma conclusão lógica sobre o potencial de aprendizagem da criança em questão.
Compreender o processo de pensamento de Jonas. Investigar o seu nível operatório, para que sejam ajustados as propostas de ensino às suas condições reias de aprendizagem. Instiga-lo e provocar-lhe o desequilibrio necessário, lhe possibilitará a reflexão sobre novas formas de pensar sobre sua realidade, possibilitando assim, o avanço de seu nivel operatório ou de abstração.
Os problemas de aprendizagem surgem por falta de possibilidade da criançaaprender, onde não possui a curiosidade desperta, não possui autoria de pensamento.
Todo pensamento, todo comportamento humano remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica.
A interpretação do discurso não pode ser feita sem levar em conta o nível da realidade, pois a realidade é a prova: sem levar em conta a leitura inteligente dessa realidade que lhe dá sua coerência:sem levar em conta a dimensão do desejo, que é sua aposta, sem levar em conta sua modalidade simbólica que lhe dará sua paixão. SARA PAIM (p.233)

3 comentários:

  1. Pati adorei o seu artigo sobre o caso jonas sou academica em psicedagogia clinica e institucional estou com uma produção do conhecimento que trata do mesmo caso poderia o seu trabalho ajudou-me muito bjs.

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  2. Sim tbem sou acadêmica do mesmo curso ! E este foi o tema da nossa produção de conhecimento. Que bom !

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  3. Você poderia relacionar as dificuldades de Jonas com os temas trabalhados em seu texto.Por exemplo,a dificuldade de Jonas com as calculadoras.Quem explicaria melhor: Freud,Lacan,Piaget ou neuropsicologia.Ou então,como relacionar os autores acimas com dados reais na aprendizagem de Jonas.

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